segunda-feira, 12 de maio de 2014

A COPA DO MUNDO DE 2014: sua legitimidade no processo democrático de escolha dos investimentos públicos



Sociedade, democracia e Estado são temas indissociáveis. As relações entre sociedade civil, democracia e Estado tomaram mais intensas, o Brasil, como o advento da Constituição de 1988, que instituiu instrumentos e procedimentos destinados à participação da sociedade civil na estrutura, na dinâmica e no funcionamento do Poder Público. Os modelos de democracia que se articulam com a sociedade civil e a cidadania são resumidos em dois: democracia representativa, onde as decisões são tomadas por mandatários eleitos e que representam interesses e a vontade dos cidadãos, e democracia participativa ou direta, onde as decisões dos assuntos públicos são tomadas pelos próprios cidadãos neles envolvidos. A democracia participativa vem sendo uma resposta aos excessos, ao elitismo e à crise da democracia representativa. O debate atual sobre execução de uma Copa do mundo de futebol no ano d 2014 no Brasil, construção de infraestrutura para a Copa, de um lado, e as necessidade da população brasileira, com melhorias na educação, saúde, mobilidade urbana e extirpação da corrupção no governo, de outro lado, tem sido latente nos meios de comunicação e mobilizado multidões nas ruas. Os movimentos sociais tiveram início na Copa das Confederações e já se espalha na internet as programações de mobilizações da sociedade civil para a Copa que ocorrerá neste ano. O governo também se mobiliza através de projetos de leis para punir manifestantes desordenados e ameaça enviar tropas do exército para conter a população, numa manobra parecida com as que os militares realizavam na época do regime militar. A nova onda de manifestações é promovida por várias organizações sociais que criticam o direcionamento da maior parte dos investimentos para construção de estádios grandiosos, sem planejamento que viabilizasse a melhora das áreas que demandam urbanização, melhorias em mobilidade e construção de estruturas de necessidades básicas da população como escolas, hospitais e locais de lazer, além de outras demandas da sociedade civil (redução das tarifas de ônibus, segurança, etc). A democracia representativa vive um momento de crise de legitimidade. Aumentam as demandas da sociedade civil e não se aumenta correspondentemente a capacidade das instituições de a elas responder, ou a capacidade de resposta do Estado alcança limites talvez não mais superáveis por causa do ajuste fiscal. É o estado de ingovernabilidade. A sociedade civil converte-se, nessa perspectiva, em esfera pública não estatal, buscando-se estabelecer, além da competição política, transformações substanciais nas práticas de governo em sua intenção com as organizações e movimentos sociais. É necessário um reordenamento na lógica do poder tradicional. A proposta para transformação é o debate público, proporcionado por uma democracia deliberativa, orientados pelos princípios da inclusão, do pluralismo, da igualdade participativa, da autonomia e do bem comum, que legitimam as decisões políticas. Segundo Habermas as decisões e instituições legítimas são aquelas com as quais devem concordar os envolvidos em um processo democrático, se eles puderem participar como livres e iguais na formação discursiva da vontade[1].


[1] HABERMAS, J. Communication and the evolution of society. Boston: Beacon Press, 1979, p. 86.